Os termômetros marcam 40 graus. O dia promete ferver. Tomo banho, visto algo leve, como um iogurte e desço com minha garrafa de água geladíssima. A vontade é de jogar na cabeça, mas apenas bebo. O elevador chega rápido. Aperto o S.
Quando chega no 8 andar, lembro que esqueci o celular. Aperto o 10. Mal para, sobe de volta.
Aperto a campanhia e vem o cachorro todo animado para a porta. Tadinho, mal sabe que é rebate falso. A empregada abre, rindo.
- Sempre esquece alguma coisa! disse ela.
- É verdade! - digo eu, suada.
Minha empregada me acha a pessoa mais distraída do mundo no quesito "partir" e a mais incapaz de sair de casa sem esquecer alguma coisa. Isso já virou piada entre nós. Sempre volto rindo, com aquela cara de "você tem razão"!
Pego o celular e desço. Minha vaga é no fim da garagem. Lá longe. O calor é de matar. Entro no carro, e, antes de qualquer coisa, ligo o ar condicionado no máximo.
- Ai, que delícia. - penso me resfrescando.
Tudo certo para partir. Reprovisor na posição, água no porta-copo, farol ligado, carro em ponto morto, óculos.
- Óculos? Cadê os óculos?
Ai que preguiça que me deu. Não era possível que eu havia esquecido mais uma coisa tão importante como os meus óculos para longe. Sim, foi possivel!
E no caminho do trabalho, depois de ter pego os óculos e suado mais um pouquinho, fui pensando como tudo na vida é causa e consequência, como tudo é mesmo circunstancial.
Todas as vezes que a minha empregada vai, e apesar de ela estar comigo há mais de 15 anos, ela não para de me perguntar as coisas "Dedé, isso é para lavar?", "Dedé, isso é para jogar fora?", "Dedé, já viu essa mancha?".
São tantas requisições na hora de eu sair que me tira a atenção do que eu estou fazendo e consequentemente vou esquecer as coisas, fazendo com que ela pense - e confirme isso na maioria da vezes - que eu sou distraída. Porém, dias sem empregada são os dias que nunca preciso voltar. Culpa dela? Não. Não posso passar a responsabilidade dos meus esquecimentos para a empregada, mas eu preciso saber que em dias de empregada eu tenho de ficar mais ligada e mais atenta, sem fazer as coisas automaticamente, já que ela me causa esse rebuliço matinal!
Essa é uma situação tão simples que exemplica tantas outras situações no nosso dia a dia. Só a minha empregada me acha distraída porque só com ela eu fico assim já que reajo com distração às requisições dela. É assim o tempo todo em todas as relações. Os relacionamentos são resultado de uma troca, de um passar a bola e fazer gol.
Quando somos jovens não temos esse discernimento do que realmente somos nós ou apenas uma reação de um estímulo de outras pessoas ou situações e tudo se confunde, mas na maturidade já podemos - e devemos - perceber essa diferença.
Algumas pessoas acalmam, algumas situações estressam, relacionamentos que fazem vibrar, acontecimentos que fazem sentir raiva. Ficar atento a isso e não à deriva é o primeiro passo para estar bem sempre e sempre sabendo quando se é realmente causa e quando se é apenas consequência.
Em tempo: adoro a minha empregada, ela é ótima, apesar de me atanazar de manhã!!!
Um comentário:
Enquanto sua empregada te deixa "distraída", a minha "me atrasa" rsrs. Toda vez que ela está em casa, eu me contamino pelo tumulto e saio atrasada!
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