sábado, 10 de julho de 2010

ezequiel neves

foto: reprodução

Era o dia do casamento do cantor e músico Nico Resende, que fazia muito sucesso naquela época, e da atriz Renata Laviola. O presente de um dos padrinhos dele foi a festa em sua casa. A casa era na Gávea e o padrinho era o Cazuza.
Michel Bercovitch me convidou para ir com ele e fomos direto para a festa na Praça Santos Dumont. A noite estava linda e a festa, animada.

Na parte debaixo da cobertura tinha cozinha, dependências, sala, com uma janela grande, quarto e banheiro. Uma escada caracol levava para o segundo andar, que tinha uma parte de música e livros, não me lembro bem, e uma varanda. A casa tinha muitos quadros com fotos do Barão Vermelho, mas o que mais me chamou a atenção foi a primeira página de um jornal: Barão Vermelho preso com drogas. Nada mais rock'n'roll colocar essa manchete na parede do seu quarto.
Havia, também, só que na parede da sala, emoldurada, uma foto bem grande de Cazuza, lindo, com a calça meio aberta com a mão dentro. Acho que nesta época ele já estava com a carreira solo e tinha lançado o primeiro disco, Exagerado.
O anfitrião estava feliz. A festa estava bem cheia e eu e Michel encontramos muitos outros amigos e um deles foi o músico Nilo Romero, parceiro de Cazuza em várias músicas e baixista da banda que o acompanhava solo. Com vontade de beber uma água (rolava muita bebida e muita comida, mas a água não passava), e com a intimidade que o Nilo tinha com a casa, fomos para a cozinha.
A decoração da casa era bem masculina, mas na cozinha dava para ver a mão feminina em muitos detalhes. Seria Lucinha Araújo ou uma decoradora?
Junto com a água pegamos uma uvas vermelhas e ficamos comendo e batendo papo. De repente entra alguém correndo, esbaforido, e fecha a porta da cozinha rápido. Era Ezequiel Neves. Disse todo nervoso que havia brigado com o Cazuza, uma briga baixaria, e não podia voltar para a festa porque ia dar merda.
Eu e Nilo olhamos um para a cara do outro sem entender nada mas podendo imaginar o barraco. Ezequiel resolveu abrir uma frestinha da porta para ver o que acontecia lá dentro da sala. Fechou de novo. E assim foi mais umas duas vezes, até tomar coragem para voltar para a festa. Saiu. Saímos atrás.
Esse foi o tempo de vermos Cazuza e Ezequiel se abraçando e se beijando como se nada tivesse acontecido.
Essa semana quando eu soube da morte de Ezequiel Neves no mesmo dia do Cazuza fiquei chocada e me lembrei muito daquele dia e da relação de amor que eu presenciei. Aquela não foi a primeira nem a última vez que vi os dois juntos, mas daquela vez vi muito nítida a conexão, a relação de amor e ódio que só a intimidade dá, de profundidade, de amizade, de paixão. Ezequiel, assim como Cazuza, era um homem talentoso, exagerado, de extremos. O chamavam de Zeca. Zeca Jagger. O céu deve estar em festa com o encontro desses dois caras incríveis.
A festa de casamento continuou rolando solta noite adentro. Eram os anos 80, quando tudo era divertido e possível, ainda mais na casa de um padrinho rock star.
Lulu Santos e Scarlet Moom formavam o casal mais bonito e romântico da festa, depois dos noivos, claro. Os sapatos da noiva sumiram, chegava gente que ninguém sabia quem era, vomitaram na cama do padrinho. Meros detalhes.
A festa foi ótima e ainda dividi a cozinha e as emoções com Ezequiel Neves. Sorte a minha.

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