terça-feira, 15 de abril de 2008

passa lá em casa...





A crônica da Fernanda Torres, na Vejinha desta semana, comenta a declaração da Mônica Martelli ao O Globo sobre a maior mentira do carioca: combinar e não aparecer.
Me lembrei logo do famoso "passa lá em casa". Isso é uma mania crônica e recorrente e mesmo tendo virado piada continuamos fazendo como se fosse verdade, acreditando mesmo que vamos aparecer, ligar, mandar e-mails.
Na semana passada encontrei um amigo que adoro, o Dario, numa pizzaria. Não nos víamos havia uns dez anos, pelos menos, e nos abraçamos mil vezes, naquela alegria de quem mata as saudades (quem nem sabíamos que existia!). Eu estava com o Marcelo e ele com uns amigos de trabalho, sendo um deles meu vizinho, o Lobato. Depois de muitos abraços e elogios intermináveis, trocamos cartões e a promessa de trocar e-mail. Saí toda feliz já pensando nas novidades que eu iria contar para ele e as que iria perguntar. Guardei o cartão com o maior carinho na minha gavetinha de cartões (sim, tenho uma gaveta de cartões, guardanapos com telefones e tal. Sempre que chego da rua com qualquer papelzinho de anotação logo coloco ali, para não perder!). Agora penso que talvez ele nunca saia dali e fique apenas fazendo companhia a outros mil cartões esquecidos.
Quantos almoços, visitas, praias, cinemas e chopes foram combinados (e jamais lembrados ou então marcados e desmarcados mil vezes, o que acontece muito também!) por esta cidade afora. Vivenciados só em teoria e jamais realizados. Nem você me liga, nem eu te telefono.
Quando vim morar no Rio eu estranhava demais, pois em Petrópolis não é assim (ou pelo menos não era!). E lembro que eu ficava triste, pensando que a pessoa havia furado comigo e não entendia que aquilo era apenas um hábito, um comportamento, uma cultura. Mas agora vejo que faço parte dessa animação toda de combinar mil coisas por combinar. Porque o carioca REALMENTE quer ver, fazer, mas, se fizesse, nem daria tempo de fazer tudo. São muitas coisas para fazer numa cidade como o Rio.
Sabemos também que tudo é uma questão de prioridade, mas são muitas as prioridades para um carioca! Todo mundo é muito amigo de todo mundo e não há tempo para todos. Eu vivo dando idéias de coisas que nunca vão adiante. Dois combinam e nenhum toma a frente e nada acontece. Talvez seja uma questão de atitude. Mas, ao mesmo tempo, se eu sair fazendo tudo que me chamam vão achar que sou maluca, pois por aqui chamar não quer dizer que seja para ir! Chega a ser difícil de entender, mas faz sentido quando se vê de dentro.

Talvez essa combinação toda também faça parte de um jeito camarada de ser que o carioca tem. Um jeito de ser amigo, irmão, brother. Abrindo as portas de casa, mesmo que só na ilusão, como uma forma de estar junto, tornar próximo.
Algumas pessoas gostam de chamar para ir na casa, falam o endereço rápido, ninguém anota nada e ainda insistem que vá. "Vai sim, vou te esperar". Um sabe que não vai, o outro sabe que não vai esperar e todos seguem numa boa
Quero fazer tudo que combino. De verdade! Pode parecer que não porque na maior parte das vezes não movo uma palha para que aconteça, mas quero sinceramente. Acho que é assim que funciona com todos. Existe um ritual de combinação e ele tem que existir para mostrar afeto, mesmo que nunca aconteça. Uma espécie de declaração de amor. Mostrar que se importa! E não deixar ao acaso. Quando sabemos, bem lá no fundo do nosso jeito carioca, que será - provavelmente - ao acaso, o nosso próximo encontro com outro carioca...

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