segunda-feira, 12 de novembro de 2007

crônica de uma leitora apaixonada


Estou lendo o novo livro de Rubem Fonseca, O romance morreu, bem devagar. Muito devagar para não acabar logo. E do jeito que eu estou lendo não vai acabar nuuuunca! O livro é de crônicas e assim que acabo de ler cada uma, leio de novo. São crônicas publicadas na internet, mas eu não conhecia e estou adorando.
Rubem Fonseca é um gênio da literatura e desde que "descobri" Lúcia McCartney devoro todos os seus livros. E ler as crônicas tem sido uma descoberta maravilhosa do homem por trás do escritor, principalmente vindo um cara tão reservado. Uma crônica inteira sobre pipoca é realmente uma delícia. Dica do escritor: a melhor pipoca da cidade é a do cinema Leblon! Adorei!
A primeira crônica, que pergunta se o romance morreu, faz uma ótima análise sobre literatura, autores, leitores e conta uma história boa: "Recordo Camões. Ele era um arruaceiro e acabou na prisão, ou por suas rixas ou por ter ser envolvido com a infanta dona Maria, irmã de rei João III. Para obter o perdão do rei ele se propôs a servi-lo na Índia, como soldado. Lá ficou por dezesseis anos e, afinal, voltou para Portugal a bordo de um navio, acompanhado de uma jovem indiana que ele amava e a quem dedicou o lindo soneto: "Alma minha gentil, que partiste". O navio naufragou e Camões só pensou, durante o naufrágio, em uma coisa: salvar o manuscristo dos Lusíadas e de seus poemas. Deixou a mulher amada morrer afogada (confesso que especulo) e perdeu todos os seus bens, mas salvou os seus manuscritos. Para quem ler? Estávamos nos século XVI e muito pouca gente em Portugal sabia ler. Mas Camões pensou neste punhado de leitores, era para eles que Camões escrevia, não importava quantos fossem. Os leitores vão acabar? Talvez. Mas os escritores não. A síndrome de Camões vai continuar. O escritor vai resistir."
E viva Rubem Fonseca!

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