quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

carta a um ídolo no estaleiro


Agora você tem um novo time, o No Estaleiro. No início é muito estranho, é tudo novo e a gente não sabe o que esperar. Por que eu? E todas aquelas perguntas. Muita gente em volta, muito assédio. E a cabeça a mil, cheia de medos, expectativa, ansiedade. Parece que não é real, que é um pesadelo e que vamos acordar dali a pouco. Eu nunca havia estado num estaleiro, a não ser por coisa pequena, mas nunca havia encarado um estaleiro de verdade, com hospital, operação, anestesia geral, UTI, como foi este agora. Mas se as doenças e acidentes existem eles podem acontecer com qualquer um de nós. Depois que a gente entende isso, tudo fica muito simples.
Mas a sua experiência de 2000, com a contusão do joelho direito, já faz de você um craque em estaleiro e já sabe as manhas desta espera diária. Muitos mimos, muitos presentes, muita dedicação, muito carinho. Já sabe também que com o tempo as visitas vão diminuindo e a gente vai engordando. Que aos poucos algumas pessoas acham que a gente está de férias, na vida boa. Que a gente muda de uma forma assustadoramente grande, mesmo que não pareça no início, a gente sempre muda para muito melhor. Que a gente vê a nossa vida de fora e que isso nos transforma para sempre.
Estar no estaleiro significa avançar a cada dia, ir no limite, enfrentar. Keep walking. E uma enorme lista de médicos, remédios, exames, exercícios. Cada dia é uma vitória particular. Uma descoberta de você mesmo a cada minuto. De cara a cara com a doença e com a cura. Uma superação que só sabe quem sente na carne. Não há como imaginar como podemos ser fortes, guerreiros, invencíveis. Pode acreditar.
Você está chegando e eu terminando a minha longa jornada desse aprendizado que é ter que parar, se recuperar, ir devagar, enfrentando o novo, um tempo novo, onde não se sabe o que esperar, o que vai ser depois quando tudo passar. Porque, tenha certeza, vai passar. E passa de uma maneira tão incrível, tão inacreditável que nenhuma imaginação alcança.
Nós somos tão apegados a nós mesmos, ao que temos, ao que somos, que a vida vai passando enquanto a gente cumpre as tarefas que nos dão, dia-a-dia, sem perceber o quanto tudo pode estar por um segundo. Mesmo. Mas depois de um estaleiro deste, haja bola para jogar. E não há quem segure uma pessoa que sabe o valor que a vida tem.
Um garoto valente, talentoso, gaiato, três vezes o melhor jogador do mundo, romântico, malandro, ainda tem muita coisa bacana para fazer, mas não pense nisso agora. Foi o que disseram para mim, e foi o melhor conselho que recebi, pois o tempo transforma a gente e também os nossos desejos. A vida é tão cheia de possibilidades e podemos ser felizes de várias maneiras. Vida é movimento. As coisas mudam o tempo todo.
Para mim, melhor que você, só o Zico.

E boa recuperação para todos que estão no estaleiro. E acredite em você, na dedicação, no tempo e nessas diversas possibilidades da vida.






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