quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

happy new year!

Era dia 31 de dezembro e todo mundo falou que Nova York ficava muito cheia no réveillon. Mas um carioca que tem Copacabana por perto sabe muito bem o que esperar de uma cidade cheia em um dia de ano novo. Para não esquecer da vida e ficar passeando pelas ruas da cidade, como sempre acontece, fizemos um roteiro básico para facilitar: fazer as compras de sempre na Century 21 pela manhã, almoçar, voltar para o hotel, descansar um pouco, ir de táxi para a ceia de ano novo no Maze, restaurante do Gordon Ramsay, com reserva para às 6 da tarde, voltar para o hotel, trocar a roupinha chique preta por um branco brasileiro paz total e partir para Times Square tentar ver a famosa bola descer.


Às 10 da manhã, passamos na recepção para avisar que a nossa conexão estava muito lenta e a moça falou:

- Estão levando a pulseira de identificação?
- Vou colocar mais tarde, quando voltar do jantar de ano novo - disse eu.
- É melhor colocar agora - disse uma recepcionista apreensiva.
- Mas não combina com o vestido - disse eu vaidosa.
- A pulseira não é para entrar no hotel não, é para passar pelo quarteirão...


Não era possível, penso eu. Será que era mesmo possível? É melhor não arriscar: coloquei a pulseira verde limão no braço esquerdo e lá fomos nós para a Century 21.




Eu queria um casacão bem quente para vestir em cima do meu vestido do jantar, que levei daqui, pois não queria ir para um restaurante bacana vestida em camadas, como uma cebola. Queria colocar o vestido e um casacão por cima e só, mas ficar protegida do frio, que era muito. Achei o casaco depois de experimentar muitos - e outras coisas mais, entre alguns presentes também. As compras do Marcelo foram rápidas. Como homem consegue?


Quando saímos da loja estava nevando, lindo. A fome era enorme, mas não podíamos comer muito, pois o jantar era às 6. Cedo demais. Mas era isso ou passar a meia-noite lá e queríamos fazer um programa de nova-iorquino e um programa de turista, tudo ao mesmo tempo agora para aproveitar bem o réveillon.


Na volta para o hotel nenhum movimento suspeito de multidão fechando o quarteirão, mas a pulserinha vip foi necessária para entrar no hotel. Esse hotel - foi o único que conseguimos - fica na 8a Avenida, em Times Square, bem perto da muvuca, mas acabamos achando bom para ver o movimento. Se eu ficasse nos lugares que gosto, que são Central Park West ou Soho, talvez nem chegasse perto de bola alguma!


Prontos e arrumados, Marcelo de gravata e tudo, e animadíssimos, descemos para pegar um táxi. Táxi? No taxi! Nenhum táxi. Marcelo deu a ideia de andarmos até a 9a e lá fomos nós. O meu figurino era perfeito para descer do elevador, entrar no táxi, entrar no restaurante, sair do restaurante, entrar no táxi, subir o elevador e só, mas lá estava eu andando com aquela bota alta, de salto agulha e bico fino, pelas avenidas de Nova York a procura de um táxi. No meio de um trânsito assustador, apareceu o nosso salvador. Nem acreditei. Estamos na 44 com 9a. O restaurante fica na 54 entre 6a e 7a.


Um bom tempo depois, chegamos na 54. Fechada para carro. Saltamos do táxi. Lá ia eu mais uma vez com a minha botinha básica! E qual foi a nossa nova surpresa? A rua estava fechada para pedestres também. E nós e mais uma turma de gente ouvimos as instruções do guarda:


- Vocês vão por aqui, dão a volta na 57, andam até a 6a, descem até a 54 para poderem entrar - disse um policial todo encasacado.

Hã? Ele não estava falando sério. A rua estava vazia, era longe da bola, não fazia nenhum sentido fecharem aquela rua. Já passava das 6, eu estava preocupada com o horário da reserva, cheia de frio e fome e com "a bota". Mas lá fui, mais uma vez. Parecia uma procissão. Todos andando juntos, só que rápido. De repente, quando viramos na 57, meu pé direito virou também. Virou para um lado, virou para o outro, e para o outro, e para o outro, tentando se segurar para eu não cair. Que dor! Foi horrível.


Marcelo ficou preocupadíssimo e eu, arrasada. Não podia acreditar que havia torcido o pé. Além da fome, a preocupação, o frio e agora um pé torcido. E ainda faltavam duas avenidas e quatro ruas. Mas o pior ainda estava por vir.


Quando chegamos na 54, vários policiais fechavam a mesma rua vazia. Só que agora era sério demais, pois tínhamos uma reserva feita havia 2 meses e precisávamos passar de qualquer jeito. Se o outro lado estava fechado e esse também, como iríamos jantar? Isso não podia estar acontecendo. Era um pesadelo no meio do frio.


Com o meu superinglês o policial fazia cara de bobo pois não entendia nada que eu falava, ainda mais nervosa. Marcelo, aí sim com inglês bacana, tentou explicar, mas o sr. guarda disse que só se alguém do restaurante fosse até lá liberar a nossa passagem.


- Precisamos ligar. Você tem uma moeda? - disse um Marcelo desesperado.
- Não! - disse eu, apavorada.


Tive a ideia de trocar umas notas por moedas com algumas pessoas, não muitas, pois ali não era passagem para nada. Só dava ocupado, ocupado. Marcelo chegou a pensar em desistir de jantar no Maze, mas eu estava irredutível. E voltei a tentar. Agora era uma policial e ela iria entender. E entendeu. E passei. Marcelo ficou lá atrás e eu falava:


- Wait, please! My husband, my husband - enquanto ela falava para eu não ficar ali na passagem.


Imagina jantar sozinha na noite de ano novo, depois de passar por todo esse perrengue? Nunca! Marcelo passou. E saímos correndo, correndo. Pé torcido? Que pé torcido? O negócio era não perder a tão sonhada reserva!


Chegamos finalmente. O Maze fica dentro do Hotel London, logo na entrada. Um restaurante lindo, com um astral maravilhoso. Demorei um tempinho para relaxar e aproveitar o jantar, que estava lindo e delicioso, com um serviço incrível. Tudo flui e é envolvente. As pessoas, lindas, estavam animadas e prontas para brindar 2009. Aos poucos fui me aquecendo, me alimentando, curtindo demais o lugar e a atmosfera. E ficamos ali falando da vida, aproveitando, comentando a dificuldade de chegar até aquele instante tão prazeroso e quanto vale a pena não desistir e enfrentar. Rimos, nos divertimos, nos deliciamos. Teria sido bem melhor ter entrado no taxi, chegado no restaurante e só. Mas se não foi, a dificuldade, o estresse e a tensão não estragaram a nossa noite, não mesmo. Complicaram um pouco, é verdade. Bastante, para ser sincera. Mas só até a chegada. Depois foi só felicidade.













E após uma sobremesa divina e um café tipicamente americano, ainda que acompanhado de trufas inesquecíveis, voltamos para a rua, agora sim, sabendo o que poderia nos esperar. E o processo foi basicamente o mesmo, vai por ali, não pode por aqui, tem que ser pelo outro lado da rua... Só que agora sem pressa alguma, pois havia ainda bastante tempo pela frente para virar meia-noite.

Em alguns momentos, longe do hotel, tentei usar minha pulseirinha vip. Algumas vezes até funcionou! O caminho de volta para o hotel foi tranquilo e fomos olhando as pessoas animadas, alegres, curtindo demais todo aquele movimento alucinante, cheio de energia.

Troquei meu pretinho básico por um branco e voltamos para a rua para passar a meia-noite. O frio era desesperador, mas nada que cortasse a animação de poder brindar a chegada de um ano novo e a vinda da esperança de ser feliz todo dia, da maneira que der e puder ser.

Talvez esse estresse tamanho tenha me deixado tensa em véspera de ano novo, mas também tenha me fortalecido e mostrado que não existe barreira quando se quer realmente alguma coisa. E a sensação de ter tentado e ter conseguido é que traz a verdadeira felicidade...

Happy New Year!
fotos: Josette Babo

6 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Didi que procissão, hehehe
ainda bem que correu tudo bem.

[]s

Andrea Freitas disse...

Mas que máximo!!!
Nossa!!Assustador e fántastica essa passagem.As provações servem pra nos fortalecer, e mostar que só o presente realmente tem sentido.
Eu cheguei da Bahia dia 12, e passei algumas situações que eu tb não esperava, embora tenham me fortalecido tb, e me mostrou que temos que ir em frente, sempre!
estou botando a vida normal em dia e depois contarei no meu blog.
bjs em vc e no Marcelo
SAÙDE!

Unknown disse...

Uau! Fiquei tensa com o desenrolar da aventura e, no final, com fome!

Val Galvão disse...

Que aventura! E no final, vcs conseguiram ver a bola descer??

Lila Montezuma disse...

Menina, se era pra ser inesquecível...
Mas, mesmo antes de ler o fim da história, tinha certeza que você não ia desistir!
Que bom que vocês aproveitaram!
Beeeeeijos e muitas saudades.

Danidan disse...

Adorei toda a discrição. É incrível como a gente vai fazendo um filminho na cabeça da gente, com todas as situações relatadas por vc, e no caso, é lógico, que os atores principais eram vcs mesmos. Pelo menos, aventura não faltou nessa passagem de ano novo né? To doida agora para te ver pessoalmente para vc me contar o resto dos detalhes.