domingo, 15 de março de 2009

15/3

foto: Ana Carreiro



Dia 15 de março de 2007 foi o dia que fui internada de emergência, entubada e colocada em coma induzido quando descobriram que dentro da minha cabeça boa e animada havia um aneurisma rompido. Como assim? Onde ele estava que nunca deu sinal? Ele estava bem ali. O tempo todo. Crescendo escondido sem alarme.
Ninguém passa por uma experiência dessas de maneira simples. Por mais alto astral, forte, determinada que a pessoa seja, mexe muito. E não dá para levantar bandeira de que isso é fácil porque não é.
Eu amaria passar a vida toda sem passar perto de um hospital e morrer bem velhinha e dormindo, sem sofrer nadinha e sem dar trabalho para ninguém. Eu queria que isso nunca tivesse acontecido? Adoraria. Mas aconteceu. Sou agradecida por ter dado tudo certo e estar viva? E como! Agora é essa a minha história, a minha realidade, vamos a ela!
E não é uma experiência de quase-morte apenas. É uma morte. Morte de uma vida que nunca mais será a mesma depois de passar por algo tão forte assim. Mudam os valores? Muito! Os horizontes se ampliam? Demais. Muita coisa boa vem junto. Mas também muita coisa difícil. Não vou negar. Mas em tudo na vida é assim mesmo e numa hora dessas não seria diferente.
Pessoas positivas, que dão a volta por cima das dificuldades, que estão sempre bem, parecem que não têm problemas, enquanto as pessoas reclamonas estão sempre valorizando os seus problemas como se eles fosses maiores que o dos outros.
Os problemas são os mesmos para todo mundo, só muda o temperamento e a maneira de encarar. E embora pareça que eu não sofro nunca por ser muito pra cima, eu sofro também, como todo mundo, do mesmo jeitinho. Só que eu não alimento o sofrimento, nem me apego a ele. Eu choro, muito, mas encaro de frente. Mas não pense ninguém que eu não sofro.

Durante a vida existem pequenas mortes (aqui nada a ver com a "pequena morte" dos franceses!) e não apenas de doenças. Mudanças pequenas ou grandes, como mudar de emprego, país, se separar, crescer são pequenas mortes. É deixar para trás quem fomos um dia e seguir em frente de uma outra maneira. Às vezes adorávamos aquela pessoa que éramos e que ficou pra trás pra dar lugar a outra realidade necessária e urgente. Também sinto saudades de mim às vezes.
Mas o que tenho certeza é que a tristeza vem, mas também vai.
E que nada supera a vontade, a coragem e a curiosidade de viver ainda muitas histórias por aí...

Eu sou feliz, apesar dos sustos pelo caminho.


~~~~ E para encerrar o tema. Essa semana minha mãe me contou uma coisa que eu não sabia.

Cenário: UTI
Personagens: eu, Marcelo, pai, mãe, cachorro

Cinco dias depois de dar entrada no hospital. Acordo grogue. Muito grogue.

- Dedé, você desmaiou e eu trouxe você para o hospital e os médicos fizeram uma embolização no seu cérebro.
- Os meus pais já sabem?
- Sabem, eles estão aqui.
- Eles estão bem?
- Sim.
- E o Zucker? Como ele está?
- Ele está ótimo.
- Então tudo bem.

Essa cena me disse muito sobre mim.




2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo seu renascimento. Desejo muita saúde para vc.

Rosa Maria disse...

Parabéns pela guerreira que você é!!!
Conte comigo...
Beijo grande