segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

não mais


Conheci o Luiz Carlos Tourinho - o Piu Piu -, nos anos 80, no Tablado. Todos fazíamos teatro e era uma turma muito animada. Ele era divertido e talentoso. Pequenininho e cheio de energia. Seu "Pluft" era maravilhoso! Nunca mais nos vimos, mas eu sempre tinha notícias pelos trabalhos que via e pelos amigos em comum.
Hoje, quando eu soube que ele morreu de aneurisma, eu fiquei triste, muito triste. Morrer jovem é uma coisa que não se espera e que não deveria acontecer. Mas acontece. O tempo todo. Mas é muito triste.
E fiquei entendendo o que ele sentiu, o que aconteceu, a dor, o medo. E isso não é apenas simbólico ou mera solidariedade.
Em março de 2007 eu tive um aneurisma. Eu não sabia que ele existia e ele sangrou de repente. Passei 15 dias no hospital, sendo mais da metade na UTI. O neurocirurgião fez uma embolização, pela virilha (sei que mulher não tem virilha, mas vamos lá, só para localizar!), e me salvou. Deu tudo certo e estou estou aqui. Mas poderia não estar.
A experiência de quase-morte não tem como explicar, mas muda TUDO em volta e por dentro. Ninguém passa por uma experiência dessa imune, nem sem medo. Fica mais corajosa porque conhece o verdadeiro medo. Fica mais forte porque lutou de mais. E aprende que não temos controle de nada, mas que podemos fazer muitas e muitas e muitas coisas boas. Todos os dias.
Quando eu dei entrada no hospital - inconsciente - eu tinha vida de atleta. Dormia cedo, corria 10 quilômetros quatro vezes por semana, com alimentação supervisionada por nutricionista, participava de provas de corrida, não fumava, não bebia, tinha a pressão controlada, todos os exames em dia e nada disso impediu que eu tivesse um treco, embora tenha ajudado muito na minha recuperação.
Não estamos no controle da vida. Mas podemos estar no controle das ações. Do que fazemos, do que dizemos, de como aproveitamos cada dia e amamos cada pessoa. Como escolhemos viver, como dividimos, como reagimos.
Tudo vai passar e acabar. Pode ser ou eu ou um amigo. Todos nós. O que estamos esperando, afinal, para viver melhor e mais feliz?
Quando um amigo, um parente, uma pessoa que a gente gosta morre é muito duro. A gente sofre por ele, por nós, pela saudade, pelo medo de seguir em frente, pela falta que ele vai fazer no mundo, pelo que ele ainda poderia viver de bom, pela culpa de não estarmos mais próximos. E também ficamos mais vulneráveis ao efêmero da vida. Num minuto estamos aqui e no outro, não mais.
Não mais.

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